domingo, 2 de julho de 2017

O segredo de Jorge

Já caía o alvorecer quando ele chegou e eu ainda não estava pronta.

Disse a ele que se sentasse no sofá enquanto iria tomar um banho e me arrumar. Subi e rapidamente tomei um banho, escovei os cabelos, fiz todo o processo de higiene feminina e em uma hora e meia estava pronta.

Ao chegar na sala não o avistei. Percorri os demais cômodos da casa a sua procura e nada. Então resolvi olhar pela janela e avistei-o em frente ao carro, fumando. Aliviei-me, a essas horas mil e uma coisas já haviam atordoado-me os sentidos.

Já acomodada no carro de Jorge, percebi que ele estava atônito e  disperso. Era de seu costume reclamar de minha demora, e eu sabia o quanto ele odiava meus atrasos quando o assunto era compromissos agendados previamente. Porém, mesmo assim resolvi ficar calada, o que é deveras difícil. 

Durante toda a viagem Jorge permaneceu calado e eu também. Chegamos ao restaurante e fomos guiados pelo garçom à nossa mesa no piso superior. E nenhuma palavra. Comecei a ficar preocupada e nervosa ao mesmo tempo. Tive vontade de gritar e perguntar o que estava acontecendo, nunca o vira daquela maneira.

Indiscretamente, comecei a olhar para o rapaz elegante desacompanhado ao lado, a fim de ser notada pelo meu parceiro e nada. Ele não estava ali! Em determinado ponto, levantei-me da mesa e dirigi-me ao banheiro. Lá, chorei copiosamente, passado alguns minutos, creio que dez, regressei a nossa mesa que para minha surpresa estava vazia.

Tentando me equilibrar em cima do sapato, fui caminhando lentamente até a mesa. Lá havia um pequeno bilhete que dizia:  "Me perdoe, tive que sair às pressas por motivos emergenciais. Espero que não note minha falta. De quem te ama. Jorge".

Meu Deus?! Não! Não comigo! Solicitei ao garçom que me providenciasse uma água com açúcar. E após alguns minutos de choro silencioso levantei-me desnorteada a espera de pedir um táxi e sumir. Era tudo o que mais queria.

Tive imensa dificuldade para descer as escadas, a ala inferior estava completamente escura e ao breu. Mas não me importei, naquele momento estava aérea demais para me importar com a iluminação do ambiente.

Chegando no piso térreo tentei tatear alguma cadeira, a fim de me locomover até a saída. Quando olhei para a bolsa para pegar o celular, notei um vulto  passar pela imensa sala e meu coração gelou. Instantaneamente me encolhi como um bicho acoado, quando de repente o alguém começou a dedilhar o piano. Era uma música muito bonita, a qual me era desconhecida. E notei que havia mais de um vulto.

A luz se acendeu tenuemente e meu Deus! Não pudia crer naquilo que meus olhos me mostravam.
Jorge estava ajoelhado no meio do salão e segurava uma taça de espumante na mão direita. Como pude ser tão estúpida! Era claro. Era isso!  Ele me pediria em noivado naquela noite.

Das sombras emergiam os vultos dos parentes e amigos com taças de espumante nas mãos. Reconheci no piano o rapaz da mesa ao  lado. E  aquela noite a agonia tornou-se em emoção, e pude ser inteiramente feliz ao lado das pessoas que amava.

Sem comentários:

Enviar um comentário