quinta-feira, 1 de março de 2018
gênise
Abras de dentro pra fora
Um botão
Do seio materno
Que se fecunda
No ventre profundo da Terra.
Se te fores poesia
Te seja de fora pra dentro
Traga pro oco
A luz de ter dois olhos
E toda a experiência do mundo.
Se te parires
Pare palavras,
Em que se consterna
Todo o sentido da vida.
Toda luz do sol se concentra
em Ti,
Um eclipse heliocêntrico
Sobre o antropocêntrico.
quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018
Mente suicida
O suicídio é uma ideia que não me abandona. De quando em quando insiste em bater-me a porta e dizer: "Olá, voltei". Já perdi as contas de quantas vezes essa ideia me toma a caixa do juízo.
Tenho procurado um alento nas religiões, porém tenho a plena convicção que são apenas subterfúgios para fugir da imensidão que existe em mim. Uma imensidão escura a qual não suporto mais olhar.
Dou voltas em torno de mim mesmo e a concepção de Deus a cada dia me parece mais distante, se torna tão longínqua que um dia me perderei da destra da divina providência.
Talvez seja um pouco de melindre, é o que sugerem. Ou preguiça, querem outros. Mas a verdade é que estou enjoado de mim mesmo, de criar vínculos sociais para fugir de mim, de buscar e abandonar todas as minhas responsabilidades por não suportar ver o meu reflexo no espelho.
Não só minha mente é suicida, como todo o meu corpo também o é. Talvez niilista, por mais que goste da vida, meu desejo por liberdade fere os conceitos de Sartre e Heidegger. Meu desejo por liberdade é matéria que meu corpo não alcança.
Não sentirei saudades, não sentirei remorsos... Apenas vou seguir meu curso rumo ao desconhecido.
Um dia não pagarei a energia elétrica e virão os homens cortar a luz. Assim é morrer, apagar as luzes do teatro e não abrir as cortinas numa certeza da aflição da plateia.
Dorme, menina. Dorme tranquila, minha consciência. Um dia o doutor dará uma anestesia geral e tu parará de sofrer desta dor tão agonizante que é o existir. Tua dor é de viver, de viver para si e para os outros, mas um dia o doutor Ramon San Pedro cortará a energia elétrica e ficará tudo bem. Agora durma, menina. Fique quietinha enquanto a paz não vem
Não digas adeus
Nem acene as mãos
Ou dê um sorriso
Se fores para voltar.
Se fores para não voltar
Pegue o elevador
Não desça as escadas
Pegue Uber,
Disque os números mudos de teu telefone.
Do outro lado se eu atender
desligue e siga,
Vá ao teu curso.
Se fores para não mais voltar
Não deixe saudades,
Alegria de quem foi e regressará
Saudade é para os íntimos,
Ela sobe escada, anda a pé
Pega condução pública
Que é para chegar bem devagarinho,
Mansinha, lenta sorrateira
E explosiva.
Se tens um medo
É o medo de pertence-te,
De reverberar suas afirmações e potência.
Sejas sua negação e abismo
Afirme suas contradições, meu irmão.
Do alto da montanha
O profeta diz: - Minha águia e minha serpente.
Teu medo é viver,
É de dizer sou da Terra
Árvore, água, fogo...
Não vês que a vida nada é,
meu irmão?
Se tu és,
És teu sim e teu não,
O tabaco, a palha,
A taboa e o cipó
Em que me deito,
Me mato
E morro.
quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018
Puetizando
A noite é das putas
E dos poetas,
Em cada bar
Jaz um poeta
Em cada esquina
dorme uma puta
A manhã vem,
A manhã é das Pombas.
Praça da República
Seis horas da manhã
É domingo,
Corpos sem vida na estação.
O banco abriga o mendigo
Que abriga a roupa
Roupa molhada,
- É que lavam a praça
A pomba voa,
Pombas secas
E não molhadas,
Pombas que voam
Agora acordadas.
Dormem as putas,
Sonham os poetas
Voam as pombas.
Dor do suicida
O suicídio é uma ideia que não me abandona. De quando em quando insiste em bater-me a porta e dizer: "Olá, voltei". Já perdi as contas de quantas vezes essa ideia me toma a caixa do juízo.
Tenho procurado um alento nas religiões, porém tenho a plena convicção que são apenas subterfúgios para fugir da imensidão que existe em mim. Uma imensidão escura a qual não suporto mais olhar.
Dou voltas em torno de mim mesmo e a concepção de Deus a cada dia me parece mais distante, se torna tão longínqua que um dia me perderei da destra da divina providência.
Talvez seja um pouco de melindre, é o que sugerem. Ou preguiça, querem outros. Mas a verdade é que estou enjoado de mim mesmo, de criar vínculos sociais para fugir de mim, de buscar e abandonar todas as minhas responsabilidades por não suportar ver o meu reflexo no espelho.
Não só minha mente é suicida, como todo o meu corpo também o é. Talvez niilista, por mais que goste da vida, meu desejo por liberdade fere os conceitos de Sartre e Heidegger. Meu desejo por liberdade é matéria que meu corpo não alcança.
Não sentirei saudades, não sentirei remorsos... Apenas vou seguir meu curso rumo ao desconhecido.
Um dia não pagarei a energia elétrica e virão os homens cortar a luz. Assim é morrer, apagar as luzes do teatro e não abrir as cortinas numa certeza da aflição da plateia.
Dorme, menina. Dorme tranquila, minha consciência. Um dia o doutor dará uma anestesia geral e tu parará de sofrer desta dor tão agonizante que é o existir. Tua dor é de viver, de viver para si e para os outros, mas um dia o doutor Ramon San Pedro cortará a energia elétrica e ficará tudo bem. Agora durma, menina. Fique quietinha enquanto a paz não vem.
sábado, 13 de janeiro de 2018
Sonhos de Poti
Caramuru
muru
ru...
Gritou o indiozinho.
Homem branco chegou...
Chegou
Chegou
Chegou...
Na beira do rio Iara canta
Iraquirtan, Curumim, pedra de sol...
Pindorama
Dorama
Rama...
Ah, terra hospitaleira,
Pronta para receber homem sem cor,
Barganhar espelho por pedra de sol
Fazer cacique grande.
Caramuru...
Grita Poti,
Caramuru é peixe,
Pindorama terra é.
Tupi, Guarani
Guarani, Tupi
Potiguá, mãe d'água sussurra:
"A jovem Moema, o boto levou pro fundo do mar"...
O navio aportou,
Poti repete para si:
"O Boto levou pro fundo do mar
Pro fundo do mar..."
Sangue real
Óia seu moço
Iô num sô dessas bandas,
Num se assuste com meus óios vermeio
Essa pele preta
De prutegê um corpo bronco
Da quentura do sol.
Estes pés rachadu
São de pisá terra,
Socá arroz, café... braço de pilão
Fecundação da vida.
Mãos da cor da terra, sim sinhô.
- Eu sou de lá!
Sou fio de rei, seu moço.
Descendo da famía real.
Pode me chamar de preto,
Me tirá os direito, me chunchar com ferrão,
Mas não nego meu sangue
Sou preto de raiz, seu moço,
Sou da linha direta de Xangô!
Seu machado, patrão
Virou a cacimba de fundo pro mar
Na passagem do tempo
Para ancoragem e sustento das pernas
no fundo das águas]
E isso eu não nego, inhô
Que sou de origem Nagô
Lastragem real de Xangô.