Muitas coisas me instigam, porém não sou capaz de dissertá-las, de certo que não é por medo, mas por não ter uma linha de raciocínio sólida... ou pela memória que me falha.
Pensando bem, já não tenho uma boa memória, ultimamente tenho esquecido muitas coisas. Esqueço-me, por exemplo, da funcionalidade do cigarro, por minutos observo-o em uma de minhas mãos até recordar-me que preciso acendê-lo e tragá-lo. Assim se dá com a masturbação. Já não sei qual é sua funcionalidade. Oras, falar de sexo!
Sentei-me dia desses na beira da praia, ao lado da esfinge de Clarisse, aquela estátua de bronze, fria, sombria, hermética me olhava e me dizia: "Coragem, Carlos. Coragem!". Maldição, como ela sabia do meu pseudônimo espiritual? Dizem que esse é o primeiro sinal da loucura, ouvir espíritos. Bom... estou em vantagem, eu ouvi a esfinge de Lispector, pior mesmo era Olavo Bilac que ouvia estrelas.
Sempre acreditei que havia uma linha tênue entre a razão e a loucura, acho que por isso Sartre criou aquela personagem tão estúpida como o Daniel. Digo, estúpido, eu ou Daniel?
- Não te apoquente Carlos. - Disse-me uma vez Drummond - Pois há uma pedra no meio do caminho.
"O que ele quis dizer?", penso eu. Não sei, não sei! Comecei a ter umas ideias para a semana de arte moderna. Penso, pois, em uma arte revolucionária, pessoas nuas, fotos, jornais, quadros de orifícios, genitais, jornais, jornais, tetas, mídia, mídia... Pois bem, quero que toda a imprensa registre o pensamento clássico de que o homem é um animal domesticado. Um animal completamente indefeso.
- Vejam, vejam, companheiros, essa é a notícia que se dará: - Pessoas nuas invadem a "Via Láctea" homens, mulheres, crianças, todos ao mundo como ao mundo vieram!
Malditos vaga-lumes que me incendeiam os candelabros do juízo, já não me recordo o motivo de estar dizendo essas coisas. - Eu? Eu estou fumando sossegadamente meu Marboro frente ao mercadão da Lapa de baixo. Observando um empresário gritar: "Água, Água geladinha e fresquinha freguesa...". Como essa gente do mundo dos negócios é ímpar. Ele passa, eu passo... Mas os motores ficam em meus ouvidos, "Acorda Carlos, que no meio do caminho, ao meio do dia, há uma pedra".
Dona Lara é enfermeira aqui no hospital de reabilitação do juízo. Está a me convidar: - Levanta, Rodrigo, vamos tomar banho de sol - ela me trata como se eu fosse criança. Mas vejam, senhores, o filósofo dizia: "Os olhos são as candeias do corpo", como pode um olho bom ter a mente sem juízo? - Pois, pois, eu vos digo senhores, "Nós somos sóbrios, tão sóbrios quanto aos insanos fora deste trem em que me encontro, pois somos capazes de dar a luz a uma estrela cintilante", agora, eu, Carlos, vou tomar sol na janela do trem e olhar os pés de jacarandá até chegar à estação.