O suicídio é uma ideia que não me abandona. De quando em quando insiste em bater-me a porta e dizer: "Olá, voltei". Já perdi as contas de quantas vezes essa ideia me toma a caixa do juízo.
Tenho procurado um alento nas religiões, porém tenho a plena convicção que são apenas subterfúgios para fugir da imensidão que existe em mim. Uma imensidão escura a qual não suporto mais olhar.
Dou voltas em torno de mim mesmo e a concepção de Deus a cada dia me parece mais distante, se torna tão longínqua que um dia me perderei da destra da divina providência.
Talvez seja um pouco de melindre, é o que sugerem. Ou preguiça, querem outros. Mas a verdade é que estou enjoado de mim mesmo, de criar vínculos sociais para fugir de mim, de buscar e abandonar todas as minhas responsabilidades por não suportar ver o meu reflexo no espelho.
Não só minha mente é suicida, como todo o meu corpo também o é. Talvez niilista, por mais que goste da vida, meu desejo por liberdade fere os conceitos de Sartre e Heidegger. Meu desejo por liberdade é matéria que meu corpo não alcança.
Não sentirei saudades, não sentirei remorsos... Apenas vou seguir meu curso rumo ao desconhecido.
Um dia não pagarei a energia elétrica e virão os homens cortar a luz. Assim é morrer, apagar as luzes do teatro e não abrir as cortinas numa certeza da aflição da plateia.
Dorme, menina. Dorme tranquila, minha consciência. Um dia o doutor dará uma anestesia geral e tu parará de sofrer desta dor tão agonizante que é o existir. Tua dor é de viver, de viver para si e para os outros, mas um dia o doutor Ramon San Pedro cortará a energia elétrica e ficará tudo bem. Agora durma, menina. Fique quietinha enquanto a paz não vem