sábado, 13 de janeiro de 2018

Sonhos de Poti

Caramuru
         muru
               ru...

Gritou o indiozinho.

Homem branco chegou...

Chegou
    Chegou
        Chegou...

Na beira do rio  Iara canta

Iraquirtan, Curumim, pedra de sol...

Pindorama
          Dorama
                   Rama...

Ah, terra hospitaleira,
Pronta para receber homem sem cor,
Barganhar espelho por pedra de sol
Fazer cacique grande.

Caramuru...
Grita Poti,

Caramuru é peixe,
Pindorama terra é.

Tupi, Guarani
Guarani, Tupi
Potiguá, mãe d'água sussurra:

"A jovem Moema, o boto levou pro fundo do mar"...

O navio aportou,
Poti repete para si:

"O Boto levou pro fundo do mar
                        Pro fundo do mar..."

Sangue real

Óia seu moço
Iô num sô dessas bandas,
Num se assuste com meus óios vermeio
Essa pele preta
De  prutegê um corpo bronco
Da quentura do sol.

Estes pés rachadu
São de pisá terra,
Socá arroz, café... braço de pilão
Fecundação da vida.
Mãos da cor da terra, sim sinhô.

- Eu sou de lá!

Sou fio de rei, seu moço.
Descendo da famía real.
Pode me chamar de preto,
Me tirá os direito, me chunchar com ferrão,
Mas não nego meu sangue
Sou preto de raiz, seu moço,
Sou da linha direta de Xangô!

Seu machado, patrão
Virou a cacimba de fundo pro mar
Na passagem do tempo
Para ancoragem e sustento das pernas
no fundo das águas]
E isso eu não nego, inhô
Que sou de origem Nagô
Lastragem real de Xangô.